Um dia desses, numa aula de Curso de
Reciclagem para Condutor Infrator, Pedi a cada aluno que falasse um pouco sobre
sua vida no trânsito como motorista e o motivo das infrações cometidas e as
razões por estar ali no curso.
Impressionante são os relatos feitos
por cada aluno!
À priori, todos (com raríssimas
exceções) não sentem culpa pelos erros (infrações) cometidos; não
sentem-se culpados por infligir uma regra social, nem por causar a infração ou
por violar os direitos alheios. Ainda, durante os relatos, os motoristas contam
que se iniciam no "mundo" das infrações ainda na Permissão Para
Dirigir, Dizendo que, tem sempre um jeitinho para burlar a Lei. O problema é
que o "jeitinho", como uma criança que nasce, cresce e vira um
adulto, torna-se um "jeitão" perigoso e danoso.
Um dos alunos falou que estava ali
depois de 12 meses de suspensão por causa da ingestão de álcool e dirigir.
Perguntei a ele, se ele tinha mudado seus conceitos,
sua consciência e comportamento depois da punição de 12 meses sem
poder dirigir e pagar uma multa de quase mil reais e a resposta foi taxativa. Foi
um NÃO bem no estilo brasileiro, com um sorrindo no ar...
..e ainda disse que está dirigindo e
bebendo, só que agora COM CUIDADO.
Perguntei a ele o que seria beber e
dirigir com cuidado. A resposta foi: “beber e dirigir tomando os cuidados para
não ser parado numa blitz”.
Muita gente, não sente nenhum remorso
ou no mínimo um sentimento de respeito a si próprio pela infração
cometida ou pela punição recebida. Veem isso como uma situação comum do mundo
moderno. Como se o pensamento discorresse da seguinte forma: Se tenho um
veículo é normal que eu seja multado e se sou multado é porque tenho um
veículo.
O trânsito manifesta em certos
individuo um problema de Transtorno de Personalidade, certa Sociopatia no
Trânsito, caracterizado por um desprezo
das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros, falta de
respeito com o próximo, atitudes altruístas e até mesmo certos sentimentos de
disputa, de chegar primeiro em algum lugar. Há um desvio considerável entre o
comportamento e as normas sociais estabelecidas, teoria e prática parecem que
no trânsito são realmente inimigas públicas. O ditado Faça o Que Eu Digo, Não
Faça o Que Eu Faço, no trânsito é fato.
O comportamento não
é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições.
Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da
agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros
ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que
leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade no trânsito. No trânsito
todo mazela (desonra) do homem é exposto aos olhos de toda sociedade e
familiares do condutor.
Geralmente, em casa,
no trabalho, na escola, em seu convívio social no clube ou na igreja ou
ainda, em quer organização social, essa pessoa é um cidadão exemplo de conduta,
de respeito, de moralidade e honestidade, sendo considerado até mesmo um apaziguador.
Porém, quando acessa o trânsito, O cidadão/motorista transformasse numa
personalidade agressiva, antipática, apressada, mal-humorada.
Este motorista, que
até então era um cidadão exemplar, agora grita, xinga, dá fechada,
não permite a ultrapassagem, encosta na traseira do veículo que vai a sua
frente, faz manobras perigosas, comete infrações, acidentes e até em casos
extremos causa lesões ou mortes.
No trânsito vive uma
conduta exacerbada, norteada de negligencia e imprudência.
A Sociopatia no Trânsito não
é privilégio de motoristas com anos de carteira, visto que esse
comportamento inicia com exemplos socialmente aceitos em todas as camadas.
Exemplos:
Os pais que dirigem imprudentemente
ou negligentemente com seus filhos dentro dos veículos. Não respeitam sinais de
trânsito, velocidade da via, fazem manobras perigosas e proibidas;
Os Agentes da Autoridade de Trânsito,
que autuam motociclistas por pilotar com viseira levantada e eles próprios
andam com viseira levantada.
Enfim, todo tipo de autoridade, que
usa sua posição para burlar a lei e depois exigem que os motoristas andem
corretos É HIPOCRISIA SOCIAL. Faz-se vista grossa ao mau comportamento dos
agentes que devem ser exemplos de quem irá punir a conduta errada.
Então, indago-me: Será que o curso de RECICLAGEM PARA CONDUTOR INFRATOR muda o comportamento de forma positiva e correta ou apenas
cria dispositivos para a Sociopatia do Trânsito ficar mais elaborada?
Acredito que Reciclar não adiante em nada se o
efeito for apenas punitivo. É mais que comprovado, pelo decorrer da história,
que punir não adianta sem a educação certa.
(A PRIMEIRA COISA QUE FAÇO AOS ALUNOS DE RECICLAGEM É ENTENDEREM QUE É SIM UMA PUNIÇÃO IMPOSTA PELA AUTORIDADE, MAS QUE, ELES NÃO PRECISAM CONFIGURAR COMO TAL. MOSTRO-OS QUE IRÃO APRENDER COISAS QUE NEM PENSAVAM QUE EXISTIA NA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO.)
(A PRIMEIRA COISA QUE FAÇO AOS ALUNOS DE RECICLAGEM É ENTENDEREM QUE É SIM UMA PUNIÇÃO IMPOSTA PELA AUTORIDADE, MAS QUE, ELES NÃO PRECISAM CONFIGURAR COMO TAL. MOSTRO-OS QUE IRÃO APRENDER COISAS QUE NEM PENSAVAM QUE EXISTIA NA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO.)
O que espero do legislador é que, ao invés de esperar um condutor
receber uma notificação de suspensão para reciclar seus conhecimentos e sua
conduta de forma punitiva, por que não fazer igual a
outros países que usam a forma educativa do curso e que dá certo!?
Na Espanha, por exemplo,
os índices de acidentes, infrações, lesões e morte no
trânsito caem morro abaixo pelo decorrer dos anos.
A forma de educar e punir seus
motoristas são de uma psicologia educacional moderna e certa.
Na Espanha existem dois tipos de
cursos:
Curso de Recuperação de Pontos e
o Curso de Recuperação de Permissão
No Curso de Recuperação de Pontos o
motorista poderá recuperar os pontos de duas maneiras:
A primeira é a realização de curso de
conscientização e reeducação de 12 horas de ensino. Este curso pode
ocorrer apenas uma vez a cada dois anos, com exceção dos motoristas
profissionais, que podem realizar o curso, uma vez ao ano. O número de pontos
que podem ser recuperados com esses cursos será de no máximo de 6 pontos.
A segunda maneira é o motorista que
ficar dois anos sem cometer infração recupera os pontos perdidos, porém,
aqueles que já fizeram o curso de recuperação e volta à prática de infrações
graves ou gravíssimas, o tempo para recuperar os pontos é de 3 anos.
Já o Curso de Recuperação da
Permissão para dirigir acontece quando o motorista perde todos os pontos (no
caso da Espanha são doze (12) pontos).
À princípio, ele fica seis meses sem
dirigir. Passado estes seis meses, ele poderá requerer sua licença novamente
desde que: faça um curso de recuperação de permissão de
conscientização e reeducação de 24 horas. feito o curso, o motorista faz
um teste teórico, no Departamento de Trânsito, cujo propósito é o de demonstrar
que o condutor tenha tomado o conteúdo do curso.
Caso, o motorista não passe no teste
poderá refazer até duas vezes, sendo reprovado na terceira, terá que refazer o
curso de 4 h.
Aqui a Legislação de
Trânsito Brasileira chama de Curso de Reciclagem Para Condutor Infrator =
PUNIÇÃO
Na Espanha é
Curso de Recuperação de Pontos ou Curso de Recuperação da Permissão. = EDUCAÇÃO
Enquanto não mudarem os conceitos e a mentalidade, o trânsito no
Brasil será um trânsito normalmente negligente e perigoso.
Para que não ocorra o que o aluno acima disse que mesmo suspenso do
direito de dirigir por 12 meses e dirigia assim mesmo, o foco do curso tem que
ser educacional.
O Detran tem que mudar e aplicar
uma prova teórica de avaliação ou credenciar uma entidade para aplicar as provas à candidatos dos cursos
de reciclagem para atestar os conhecimentos adquiridos
E o CONTRAN e/ou o Congresso Federal devem criar dispositivos (lei) a exemplo da Espanha
em que o condutor faça um curso para recuperação de pontos, sem precisar ter a
CNH suspensa ou criar uma lei que em cada renovação da CNH faça pelo menos um
teste teórico sobre legislação e caso seja reprovado seja direcionado a um
curso de no mínimo 10 horas legislação
de trânsito e convívio social.
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